sábado, 7 de abril de 2007

cena de anteontem

- Por quê?
A pergunta sai a jato da boca alaranjada de um rosto branco, saudável, redondo, que se abre agora para morder um pequeno pedaço do pãozinho-de-festa recheado de queijo.
Cabelos estilo Lady Di, castanhos-claros e intrometidas mechas loiras, combinam com o rímel dos olhos, o blush das maçãs do rosto e o preto das unhas curtas.
A blusa de cetim champanhe e a bolsa de matelassê perolada brilham. Pareceria aquelas personagens glamourosas de um romance dos anos 50, não fosse o resto do figurino. A calça jeans bordada a pedaços de veludo e fios-de-ouro deixa de fora apenas a base do sapatênis bege, de salto acrílico. O sol denuncia as rugas atenuadas no pescoço, três traços horizontais, o mais alto deles levemente arqueado para cima.
O guardanapo que continha o pãozinho se esvazia e é elegantemente depositado na mesa de toalha branca de renda cearense. Ela se recompõe: ergue um pouco mais a cabeça, apruma o porte ereto, enquanto confere a posição da bolsa embaixo do braço esquerdo e passa a outra mão no cabelo.
O perfume floral se mistura com o cigarro de alguém. Por trás dos óculos de formas retangulares, de armação listrada, vermelho-marrom-verde, os olhos castanho-escuros e muito abertos questionam sem verbo:
- Por quê?

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