domingo, 10 de junho de 2007

por causa do vale

Se tivesse trabalho carteira assinada cartão eletrônico, não ficaria tão puto quando o vale-transporte voou do bolso antes de entrar no buzu. Porra, cidade maldita, vento idiota, cobrador filho-da-mãe. Já era. Agora é meia volta pra casa. Entrar no barraco, sentar no colchão fininho, cheirar o mofo das paredes, esperar anoitecer pra amanhã conseguir outro vale e tentar ganhar a rua de novo. Nada pra comer, não tem jantar, escova de dentes, papel higiênico branquinho.

Babacas. Eu prefiro sonhar de olho aberto. Agora estou na praia, mostro minha sunga de jersey pra todo mundo, um cara serve cerveja e queijinho coalho pra toda a minha galera. São dez minas e uns caras e eu, o maior de todos, pago a conta e nem quero o troco. Cerveja é bebida de barão, mas eu posso tudo e depois saio no meu carro último lançamento com bancos de couro e dvd no painel pra distrair as crianças.

Tá mesmo escuro aqui dentro dessa bosta de quartinho sem janela. Eu sei que lá fora tem sol ainda, mas pra mim o dia já acabou. Hoje, só amanhã, quando passar de novo a tia Naná e me der outro vale. Ela não tem nada pra me dar a não ser um vale todo dia. Babaca ela também, aquele sorrisinho falso de quem tá podendo. Um dia pego dela todos os vales que ela tiver e passo o mês viajando de graça pela cidade. De cabeça erguida. É. Vou fazer isso amanhã mesmo. Aí. Gostei.

Um comentário:

Simone Iwasso disse...

que bacana encontrar outra boa jornalista que também solta seu lirismo por aí... adorei a visita e seu blog... ah, acompanhei seu trabalho no levantamento da abraji, foi bem legal!