domingo, 13 de maio de 2007

o jardineiro e a flor

Todos os jardineiros do mundo possuíam truques: adubos místicos, ferramentas astrais, palavras mágicas, horários encantados para as regas.

Mas nunca houve um profissional como aquele - seu segredo estava guardado em idioma celestial transliteral, e assim não dependia de artifícios humanos, como adubo, ferramenta, palavra, rega.

Nascera com o poder de fazer florescer em pleno deserto - onde a aridez da terra e a secura do céu não oferecem qualquer afago a plantas como o cactus - que, embora fortes para resistir ao castigo, podem brindam o universo com raras flores delicadas, de pétalas sedosas, capazes de brilhar, mesmo no escuro.

Bastava aquele homem olhar para o cactus, à distância, e ele florescia. Aquela planta poderia sobreviver sem ter conhecido seu potencial de flor? Poderia. Mas, uma vez que a flor nascia, jamais voltaria a se resignar à condição anterior.

O jardineiro poderoso disso bem sabia. Para não causar impacto, quando encontrava um cactus se aproximava lentamente, pé ante pé, para que as flores surgissem devagar. E assim, durassem uma eternidade...

E naquela imensidão de tempo, a flor precisaria sempre do jardineiro, e o jardineiro não conseguiria abandonar sua criação. A única restrição daquele poder era essa - cada jardineiro a que era concedido só poderia fazer nascer uma flor. Se a perdesse, só de memórias viveria.

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