domingo, 6 de maio de 2007

mais um, de repente

Passo a mão ao redor do ombro dela (temos quase a mesma estatura, noto), e pergunto, em voz baixa, para não satisfazer a curiosidade de duas outras sem-teto que espreitavam à porta do barraco para ver o que a repórter ali fazia:

- Estive aqui mês passado e você não falou nada dessa gravidez. Como é que foi isso?

- Ah, minha filha. Só fui descobrir esses dias. Já estou de sete mês. Fui levar minha menina na escola. Fui andando né, e na volta me senti mal. Aí parei no posto e o doutor mandou fazer exame. Eu disse a ele que não podia ser nada, porque tomo hormônio injetável. Mas era. Eu não queria não. Vou dar essa criança para minha irmã. Coitada, ela casou faz dois anos e até agora não teve filho. Acho que nunca vai poder ter.

- Mas e o Joel, fala o que disso tudo?

- Nada.

Tudo descarregado assim de uma vez, a mulher de olhos verdes dá um suspiro e se encaminha para uma montanha de roupa suja, que está do lado de fora do barraco, na sacada do edifício. De frente para o mar, as duas mãos calejadas se ocupam de lavar roupa em uma velocidade raivosa. É um tal de se abaixar e carregar peso e se dobrar de novo por sobre a barriga onde uma criança já vivia que penso comigo, ah, agora ela não falará mais.

Mas estava enganada... Cada esfregadela na roupa valia uma revelação sobre o futuro daquele novo sem-teto.

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