sábado, 27 de outubro de 2007

curt

Eram dois irmãos com aptidões diferentes. Carlos gostava de estudar música. Curt, de abrir as caixinhas de rádio para descobrir de onde vem o som. Carlos passava horas transformando partituras em notas no seu violino. Curt ganhava o dia se reinventasse a junção de duas peças em um eletrodoméstico.

Todos da família queriam ver os dois rapazes tocando violino juntos. Curt até tentou por algum tempo. Uma tarde, cansado, sonhando com chaves de fenda & transistores (e não com semibreves & colcheias), perdeu a paciência e quebrou o arco de seu instrumento na cabeça de Carlos. O irmão não ficou brabo: ganhou o violino de Curt, ainda semi-novo...

E então a rotina de Curt agora era desvendar os segredos e manhas da mecânica. Desejava aquelas quatro paredes - ele, o silêncio, o cigarro e as pequenas máquinas inventadas para servir. O prazer era tanto que construiu uma oficina. Nela viveu até descobrir um câncer, aos 69. Curt faleceu na madrugada da última quinta-feira.

2 comentários:

Simone Iwasso disse...

katherine, o seu é mais real e também comovente.

um beijo!

sandro so disse...

O barato desses microtextos � conseguir reduzir a vida ao que todos gostar�amos: o essencial.