Navego na banheira coletiva. Pela janela do veículo entra um vento que mexe com o cabelo branco, comprido e liso da senhora à minha frente. Vento forte, traz o barulho do mar para brigar com o do motor, faz a imaginação tomar conta da realidade. A letargia é o palco perfeito para a entrada do bêbado sujo, de boca molhada e bafo que se espalha através de gotículas de saliva pelo ambiente. “Feijoada, mocotó, peixe”, ele diz, entre pausas, olhando para fora. Deve estar com fome. Mas a barriga é enorme e dá um ar ainda mais nojento à cara do político, estampada na camiseta. Numa das mãos, segura meio par de havaianas branco. Num dos pés, se equilibra sobre a outra metade. Fica ali parado como um marujo de história em quadrinhos, agarrado ao mastro para não ser levado pela maré.
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