domingo, 25 de novembro de 2007

fonte nova

(Ficção.
Sopro em prosa para afastar os maus ventos,
e trazer mais perto brisas amorosas e serenas.
Amém)


A fila do ingresso estava mesmo imensa nessa quinta-feira, e já era quase meio-dia, e eles tinham chegado às oito na Fonte Nova, ainda iria demorar mais um tempão para se aproximar realmente do guichê, e a barriga roncava - mas Rosa, ainda assim, sorria. Tudo o que lhe importava era ter seu namorado ao seu lado. O rapaz falava sem parar ao celular com o amigo do trabalho, era blablablá Bahia vai ganhar blablablá Bahia vai subir e nem um beijo para Rosa, só aquela mão suada entre as dela. Mas a menina não se chateava com isso também. Ao contrário, exultava. Estar ao lado de Souza era o que mais queria. Então sorria ao pensar que já estava há horas de mãos dadas com ele, sentindo aqueles dedos macios entre os seus. De repente respirou fundo e pensou, sem direito saber a razão (talvez vagamente encucada com a quantidade de gente que lotaria o estádio), que morreria ao lado dele no domingo, se fosse seu destino, mas iria com ele ao jogo. Ah, iria. Com muito amor. Já tinha sido tão bom pegar ônibus colada nele... Souza sabia da candura de Rosa e gostava do calor da pele dela. Era tão bom. Poderia morrer deitado entre seus braços. Ah, poderia...

6 comentários:

Anônimo disse...

Amém e paz para todos neste momento de dor e tristeza

Castelinho disse...

Katherine,
sobre o que é bom, institivo e primitivo, que são atributos próximos ou próprios à paixão, podem pairar todo o tipo de sentimentos.
Eu lhe garanto que os melhores sentimentos estavam ontem na fonte nova, incluídos a paciência e a parcimônia, mesmo para 100.000 pessoinhas reunidas extravasando ânimos e humores.
Sob as instituições humanas que são apenas representações (in)formais dos laços e relacionamentos humanos, há os elos que criamos nos relacionamentos, e para depois do início dos relacionamentos, dos laços que se criam à revelia do nosso controle emotivo.
Sem nos darmos conta, estes nos seguem por toda a vida.

anjobaldio disse...

Estou com o Ediney: amém e paz para todos nesta tristeza e dor.

Rubens da Cunha disse...

bonito e trágico.
obrigado pela visita ao Casa de Paragens e ao link aí do lado.
retribuirei na mesma moeda :)
olha, enquanto vc não vem a joinville, pode receber minhas crônicas semanais, basta me dizer teu email no rubens712003@yahoo.com.br, que eu te cadastro aqui.

abraços
Rubens

Senhorita B. disse...

Um pai nosso para todos nós.

Anônimo disse...

Dê uma espiada, se já não conhece, no site "www.textovivo.com.br" dedicado a Jornalismo Literário. Há um curso de pós-graduação. Lançaram recentemente um livro com reportagens produzidas por alunos do curso. Eu gostei muito do livro, organizado por um dos cabeças, o Sérgio Villas Boas. Sinto em você essa pegada, a do Jornalismo Literário, é claro. Abr. Carlos Barbosa