terça-feira, 8 de julho de 2008

dois dentes

Mergulho na piscina e deixo lembranças de verões passados confortarem meu corpo, entregue ao cirurgião-dentista. Dr. Gerd se aproxima e diz em voz suave: "A injeção não deve doer nada, nada". Sou criança de novo. Posso sentir o chão de azulejos massageando o meu umbigo, no fundo da piscina. Está tudo azul e morno ao meu redor. "Agora, uma leve pressãozinha...". E lá vai um grande dente, para fora de mim. Sangue, "mais gazes!". Os olhos de Dr. Gerd são transparentes como água límpida. "Agora precisamos dar mais uma injeção, para o segundo dente". Bóio. Revejo o roseiral de pequenas flores cor-de-champagne em cachos à beira do varal; revejo o céu de nuvens mutantes."Essa pressãozinha é um pouco mais...". Gazes, mais sangue. Saio inteira, estou seca, e chamo um táxi com dois dentes escondidos no meu bolso.

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