quinta-feira, 10 de julho de 2008

missão cumprida

O pianista bate uma palma contra a outra duas vezes sem que o gesto produza qualquer som. Agora ele as esfrega, os olhos fixos nas teclas pretas e brancas à sua frente, o queixo trêmulo. Não há partituras; só memória e intuição. Passam-se dois minutos, e o queixo do homem parece tremer mais forte a cada segundo de silêncio. Mas, de repente: tá, tã. As notas começam a sair de sua cabeça e virarem som de verdade. O pianista balança todo o tronco para frente e para trás com a dinâmica da ária da quarta corda. O queixo pára de tremer na segunda parte, quando surge, em sua boca, um sorriso tristemente satisfeito de missão cumprida.

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