domingo, 22 de abril de 2007

máscaras que nauseiam

Entro na sala estreita da casa da guria. MV Bill rolando no aparelho de som e todas as luzes apagadas. É quase meio-dia, mas a falta de janelas deixa a sala-corredor com ares de noite. Um vento quente e denso beira a porta da frente, aberta, sempre aberta.

Sofá de tecido. Lajotas desenhadas no chão. Parede bege, cortinas amarelo-morto. Tudo ao redor é marrom, cinza, preto ou verde-musgo. A menina fala sem parar. E não entendo. Sorri, sorri, sorri. Mas o que ela diz me parece tão triste... Dentes brancos, reluzentes, perfeitos. Lábios grossos. O disco de MV Bill termina. A conversa não avança para lugar nenhum. Círculos e círculos de idéias começam e terminam no mesmo ponto, um ponto sombrio como a escuridão.

Sinto náuseas de curiosidade e faço perguntas, mas o sorriso da garota continua grudado no rosto, inabalado pelas histórias melancólicas, deprimentes que passam pela boca e ganham som, insólito som de fábula. A máscara de felicidade me confunde: hipocrisia? Insensibilidade? Perversão? Cegueira?

Aos 20 minutos, suspiro profundamente. As náuseas se espalham para todas as células do meu couro cabeludo e um calafrio avisa: hora de ir.

Do lado de fora, Elis Regina canta, e uma dona de casa com bom gosto faz uma segunda voz decente e assobia nos intervalos das estrofes. A guria desmancha o sorriso, se irrita com a vizinha e decide colocar outro disco de hip hop.

A sala está cada vez mais quente, pequena e escura. Minha boca, cada vez mais seca. Os ouvidos, saturados de ouvir o que os olhos não captavam. Nó na cabeça. Levanto. Caminho até a porta. Digo que tenho que ir embora. Saio sem me despedir.

Desço a ladeira sem olhar para trás, com a impressão de ter tido um sonho estranho.

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