segunda-feira, 23 de abril de 2007

operação de nada

O telefone toca na casa do juiz. A voz do outro lado avisa: você será preso em poucas horas. Mas não se preocupe. Prenderão apenas para cumprir o protocolo. Como de praxe, estamos providenciando tudo. Você será solto em poucas horas. Mantenha calma e feche o bico. Nossos advogados já prepararam o pedido de habeas corpus.

Desligam. O juiz entorna três dedos de uísque sem gelo sentado no sofá da sala. Não sorri, nem chora, nem altera uma linha da testa. Termina a bebida e telefona para a amante. Avisa que o encontro do dia está cancelado. Enquanto isso, vê a mulher estacionando o carro. Desliga e arma uma cara de inocente.

- Querida, vou ser preso daqui a pouco. Mas volto logo, porque ninguém vai ter provas contra mim...

- O quê? Como assim? Por quê?

- Não precisa se assustar. Isso é coisa de inimigo, na certa alguém que mandei condenar. Vingancinha besta. Vão inventar milhares de mentiras nos jornais. Sabe como é. Mas amanhã ou depois de manhã estarei aqui de novo. Mulher, confia em mim. Não fiz nada.

A esposa olha para a bola gorda, estúpida e mentirosa que se serve mais uma dose. E reza: tomara que esse filho-da-mãe morra na cadeia. Pena que tem muitos amigos bandidos como ele. Tá pensando que me engana com essa conversinha idiota? Dá um sorriso bem mole e senta ao lado do marido. Manter as aparências. Eis a chave do sucesso.

Nenhum comentário: