Asfalto carcomido das bordas ao centro. Buracos. O carro segue indiferente, desviando dos perigos, sempre em frente. A luz do dia entra pelos olhos como lança-chamas. Marujo acende o cigarro, nota que é o último e continua a dirigir. Ainda mais rápido.
Em meia hora, outra paisagem o espera. A do quarto de Ernestina. Pequeno, mas sombreado e bem ventilado. Tina sempre fazia valer o esforço, a poeira, o suor, o cansaço. Esperava Marujo com o almoço pronto e o corpo perfumado. Todo domingo, há três anos.
Quando volta para casa à noite, o homem se joga para os braços de Graziela, sua mulher, como se tivesse realmente passado o dia jogando bola com os amigos. Enche-a de carinho e jura amor eterno entre beijinhos inocentes. O corpo de Tina era a lembrança que dava vigor para Marujo amar a esposa dia sim dia não, antes de dormir com os anjos.
Filha
Há 2 meses
6 comentários:
Bacana, Katherine, o seu texto é enxuto e elegante. Gosto muito de como as imagens vão construindo cada cena. Bjs
Bem cinematográfico.
gostei principalmente por não fazer juízos de valor explícitos no texto. quase apenas descrever.
Sandro Ornellas
E foi assim que a humanidade se fez... E cá estamos nós... Abraço, Mayrant.
Adorei os beijinhos inocentes, reservado ao domingo, dia não. Mas você me permite só um parágrafo de continuação?
_Ainda bem que ele chega exausto do futebol, pensou Graziela. E se deita de lado, olhos abertos, um meio sorriso de lembrança, o corpo levemente dolorido. Como acontecia há quase dois anos desde daquele domingo em que o porteiro analfabeto de Ipiaú, com pinta de Gael, havia ajudado a estancar o vazamento do sifão da pia e o seu tédio dominical .
Katherine,
mal comecei e tropecei. O blog do Ivan foi parar em algum lugar de onde não pode ser resgatado para atualizações. Novo endereço: http://dmitriivan.wordpress.com.
Aguardo futuras visitas.
Ivan Dmitri.
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